Terra Brasil – A Globo demitiu nesta terça-feira (17) Tyndaro Menezes, chefe de jornalismo investigativo da emissora no Rio de Janeiro.
O nome do profissional aparece em uma investigação do Ministério Público envolvendo Arthur César de Menezes Soares Filho, conhecido como Rei Arthur, e o delegado Ângelo Ribeiro, afastado da Polícia Civil na semana passada acusado de receber propina do empresário para encobrir inquéritos tributários.
Ambos são acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. Em nota, a Globo disse que não comenta questões relacionadas ao compliance e reforçou seu Código de Ética. Nos últimos anos, Menezes se notabilizou em “ataques da emissora” ao presidente Jair Bolsonaro.
Na emissora desde 1992, Tyndaro foi citado sete vezes no documento apresentado pelo Ministério Público contra Ribeiro, feito na semana passada, ao qual o Notícias da TV teve acesso. Na denúncia, o ex-funcionário da Globo teria intermediado um negócio suspeito na área da saúde feito pelo delegado.
Nas conversas, há tratativas sobre valores a receber. O jornalista apresentou pessoas para o delegado, que combinou comissões sobre a compra de insumos para um hospital do Rio. Tyndaro Menezes não foi denunciado, mas é descrito como alguém próximo a Ribeiro, que passava informações privilegiadas para o Rei Arthur sobre movimentações e operações policiais.
O Ministério Púbico não especifica se o ex-chefe da Globo poderia ser uma das fontes de Ribeiro. Contudo, o nome do jornalista aparece na investigação quando a procuradora descreve os negócios de Ângelo Ribeiro no Rio de Janeiro.
Menezes teria tido diversas conversas e trocado mensagens com o funcionário público, em que se chamavam de “amigos”. Eles também são sócios em negócios. A Globo não permite esse tipo de relação, que fere seu Código de Ética.
“As negociações suspeitas propostas pelos delegados ficam ainda mais evidentes, tendo eles se referido, inclusive, ao jornalista Tyndaro Menezes, ligado à Rede Globo. No contexto em que falam sobre compra de insumos médicos e sobre ‘SC’ (Sérgio Côrtes) e família serem atravessadores de uma empresa de São Paulo, Ângelo fala a Victor que Tyndaro não integraria nenhuma empresa, mas, ainda assim, ‘seria prestigiado’”, diz trecho da denúncia.
Em uma troca de e-mails, que consta na denúncia, Ribeiro afirma que vai dividir 1% de comissão de uma nota que retirou mediante acordo de comissão de um produto superfaturado. “Eu vou dividir esse valor com Ty, claro”, comentou o acusado, em momento que mostra intimidade com o jornalista.
Tyndaro Menezes também apresentou Sérgio Pugliese, diretor da empresa Approach Comunicação, para o delegado. Ele comenta o assunto em outra troca de mensagens. “Conheci Sérgio Pugliese através de Tyndaro, claro”, disse o delegado para um interlocutor do processo.
Segundo apurou o Notícias da TV, a situação chegou ao compliance da Globo na semana passada. Jornalistas investigativos da empresa souberam da denúncia do Ministério Público e entraram em contato com o setor. Em sua defesa, Menezes alegou que apenas apresentou pessoas e que não há nada de ilegal no assunto.
A Globo entendeu que a ligação de Menezes com o delegado é, no mínimo, próxima demais e que isso, por si só, já configura uma quebra dos Princípios Editoriais da emissora. O fato de ele ter sido citado por ter, supostamente, recebido dinheiro agravou a situação. A demissão foi comunicada sem direito a despedida.
Procurada pelo Notícias da TV, a Globo enviou o seguinte comunicado: “O profissional citado não está mais na empresa. A Globo não comenta questões relacionadas a compliance. Reitera que tem um Código de Ética, que deve ser seguido por todos os colaboradores, e uma ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação. Todo relato é apurado criteriosamente assim que a empresa toma conhecimento e as medidas necessárias são adotadas”.
O Ministério Público confirma a citação do nome de Tyndaro Menezes na investigação, mas ressalta que o jornalista não foi denunciado como réu no processo conduzido pelo órgão, em parceria com o Gaeco (Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado), contra o delegado Ângelo Ribeiro e Arthur César de Menezes Soares Filho. A reportagem não conseguiu contato com Tyndaro Menezes até a publicação deste texto.