Para entender a paranoia da traição, basta ler até o final. A lista é grande, mas deixarei que tirem suas conclusões com o texto do advogado Abdon Marinho.
Amigos pelo caminho
A NOITE principiava engolir o dia quando o então deputado Aderson Lago iniciou a oitiva do ex-deputado Marcony Farias na CPI da Pistolagem.
O auditório Fernando Falcão, da Assembleia Legislativa estava lotado, com muitos da assistência em pé aguardando aquele que seria um dos principais momentos da CPI. O deputado Aderson Lago um dos mais respeitados parlamentares de todos os tempos no Maranhão por sua inteligência e perspicácia, como interrogador.
O interrogado, um ex-deputado estadual, também bastante respeitado e, como se dizia antigamente “passado na casca do alho”.
— Deputado, o senhor conhece fulano de tal? Pergunta Aderson Lago.
— Sim, senhor deputado, conheci. Muito meu amigo, morreu. Responde Marcony Farias.
— E Sicrano de tal? Pergunta o deputado da CPI.
— também conheci, gente muito boa, morreu assim ou assado. Responde Marcony Farias.
— O senhor sabe dizer algo de de Beltrano de Tal? Indaga o deputado Aderson Lago.
— Sei, o conheci muito, foi amigo do meu pai, de toda nossa família, morreu nesta circunstância.
E assim ia o deputado Aderson Lago perguntando sobre pessoas e o ex-deputado Marcony Farias respondendo sobre as mesmas, sobre a amizade com elas, a forma como tinham morrido e narrando episódios sobre as vidas delas.
O deputado Aderson Lago então fez a pergunta que tirou risos da audiência:
— Senhor deputado, o senhor não acha estranho que todos esses seus “amigos” tenham morrido?
O ex-deputado Marcony Farias não perdeu a viagem e respondeu-lhe com uma presença de espírito desconcertante:
— Acho não, senhor deputado, tanto assim que tenho mais amigos vivos que mortos.
A plateia foi ao delírio com a resposta. E, depois dela, se não me falha a memória, a sessão foi encerrada.
Ainda estávamos nos anos noventa, não havia essa profusão de aparelhos celulares gravando ou filmando tudo. A taquigrafia concentrada nas perguntas e nas respostas não registrou – e não tinha como –, o clima daquela sessão. Uma pena, perdeu-se um momento ímpar do parlamento estadual.
Assaltou-me a lembrança dos “amigos” do ex-deputado Marcony Farias a que nos referimos acima a partir da provocação feita por um amigo.
Ele me chamou a atenção para fato de muitas pessoas que apoiaram ou estiveram, ainda que circunstancialmente, com o atual governador Flávio Dino “tenham ficado pelo caminho”. Pelo menos, estes, vivos.
Na verdade, esse amigo apenas me fez recordar fatos que eu mesmo narrei em textos anteriores.
Basta lembrar o sucedido com Roberto Rocha, com Waldir Maranhão, com Zé Reinaldo e, agora, o ensaio feito em relação a Cleomar Tema na disputa pela FAMEM.
Em relação aos dois primeiros poder-se-ia até justificar: foram companheiros de uma chuva, não de uma uma caminhada.
Mas o que dizer em relação aos últimos?
Quando o ex-governador José Reinaldo “inventou” a candidatura de Flávio Dino a deputado federal já com o propósito de fazê-lo governador posteriormente, confiou essa missão ao ex-deputado Humberto Coutinho (já falecido), então prefeito de Caxias, e ao atual prefeito Cleomar Tema, que, naquela época, era prefeito de Tuntum.
Foram estes, juntamente com o então governador, que “quebraram lanças” para fazer do ex-juiz um deputado federal sem que este conhecesse os caminhos do Maranhão profundo.
Cumpriram com louvor a missão que lhes foi dada.
Em Tuntum, o candidato obteve Flávio Dino 8.801 votos; apenas para efeitos de comparação, o segundo colocado, Pedro Fernandes, obteve 3.544; apenas cerca de mil votos a menos que o candidato a senador e cem votos a menos que o candidato a governador apoiado pelo prefeito no primeiro turno; em Caxias Flávio Dino obteve 20.825, contra 2.840 do segundo colocado, Sétimo Waquim.
O restante dos votos, além das articulações dos dois prefeitos, o próprio governador tratou de arrumar, graças a sua inquestionável boa relação com a classe política.
Acredito que sua excelência, naquela eleição nem teve a curiosidade de conhecer os povoados “Dois Irmãos” em Tuntum ou no “Barro Vermelho”, em Caxias.
Como é sabido eleição após a eleição o já ex-governador continuou “quebrando lanças”, renunciando, conciliando até que, finalmente conseguiu o intento de fazer o “protegido” governador do Maranhão em 2014.
Nos quatro anos seguintes o ex-governador José Reinaldo perseguiu um sonho: encerrar a sua carreira politica como senador da República como representante do Maranhão.
Contava com a retribuição, pelo tanto que vez, do governador Flávio Dino.
No final de 2017 o governador anunciou, com direito a levantamento de mão e tudo mais o seu “favorito”, o seu primeiro candidato a uma das duas vagas ao Senado: seria o deputado Weverton Rocha, presidente do PDT.
E, fez pior, em relação ao ex-candidato natural, o seu padrinho politico, este teria que se “viabilizar” junto as bases de sustentação ao governo, conforme declarou em entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno. A segunda vaga iria para o “murro” como dizíamos no interior.
Ali, acredito eu, o ex-governador tomou consciência que jamais seria o candidato do governador por quem ele tanto lutou. Não moveria “uma palha”, não faria um gesto. Fez campanha e “vestiu a camisa” dos seus candidatos Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS).
O resultado da eleição, como esperado, consagrou a vitória do governador, em primeiro turno, dos seus candidatos ao Senado, da maioria na Câmara dos Deputados e da Assembleia Legislativa.
O ex-governador ficou pelo caminho.
Solidariedade na derrota só dos amigos verdadeiros.
Agora, por ocasião da eleição da Federação dos Municípios do Estado do Maranhão – FAMEM, a história se repete, o governador ensaiou a mesma cantilena e, por fim, anunciou sua “neutralidade” ou seja, não “quebraria lanças” pelo aliado de primeira hora.
Segundo disse, apostava que houvesse consenso, o que não aconteceu.
Seria o caso de se perguntar o que fez objetivamente para que houvesse esse consenso? Chegou chamar os contendores? Disse algo que pudesse uni-los? Não se sabe.
O que verbalizam seus aduladores é que pesou na “neutralidade” a fidelidade demonstrada pelo prefeito Tema ao ex-governador José Reinaldo na última eleição para o Senado.
O que resta claro aos bons entendedores é que o governador já “trabalha” de forma intensa no sentido de fazer o seu “senador favorito” o futuro governador do Maranhão. Colocá-lo no “comando” da FAMEM é um passo significativo neste propósito.
O prefeito Tema será mais um amigo a ficar pelo caminho?
Ah, naquela eleição em que José Reinaldo, Humberto Coutinho e Cleomar Tema “quebraram todas as lanças” em favor do desconhecido e obscuro candidato a deputado federal Flávio Dino, no Município de Igarapé Grande ele obteve 38 votos.
Fica o registro para a posteridade.
Abdon Marinho é advogado.