A farsa genocida dos trópicos
Por Abdon Marinho.
ERA UM SÁBADO chuvoso. Entre uma leitura ou outra, depois dos afazeres domésticos e de escrever algumas ideias, ocupei-me em assistir a um documentário na televisão. O título: “A Evolução da Maldade”, trata-se de uma espécie de série mostrando a loucura, a violência, a desumanidade de uma série de ditadores genocidas ao longo da história.
O episódio que assisti era sobre Mao Tsé-Tung, que dirigiu a China de 1949 até sua morte em 1976.
Nele, vimos como Mao determinou a coletivização de todas as propriedade, meios de produção e até mesmo de utensílios de uso pessoal e como isso levou a população à mais absoluta miséria. Nas fazendas coletivas determinou-se cotas de produção cada vez mais elevadas, condenando à morte, por inanição, aqueles que não a atingia ou não tinham condições físicas para produzir, como idosos, crianças, portadores de deficiência, etc.
Não satisfeito com a produção baixa achou-se, ainda, outros culpados: os pássaros e se ordenou a matança das aves para economizar os dez ou doze grãos que cada um poderia comer.
Por óbvio, que o plano não funcionou, pelo contrário. A população campesina matou as aves e como consequência as pragas que os pássaros, também, comiam tomaram conta da produção. Resultado: mais fome, mais mortes e, até, notícias de canibalismo.
Em nome da sua ideologia Mao promoveu sua “revolução cultural”, um sistema pelo qual todo pensamento dissonante deveria ser eliminado.
Aliás, as pessoas com capacidade para pensar deveriam ser eliminadas e foi isso que ordenou a seus jovens seguidores que saíram a campo para eliminar professores, escritores, artistas, pensadores e qualquer um que ousasse ou fosse acusado de ser “opositor” ao regime, inclusive, pessoas de dentro do próprio partido que foram presas, submetidas a trabalhos e foçados e deixadas a morrer.
Pesquisadores e historiadores não têm um número exato de mortos durante aquele período, mais estimam que tenha passado de setenta milhões. Talvez achem pouco uma pilha com setenta milhões de mortos se comparados a população de 600 milhões de habitantes.
Pois bem, fiz essas ligeiras considerações a respeito do que ocorreu na na segunda metade do século passado (praticamente, ontem), para dizer que, apesar de todo mundo ocidental conhecer aqueles horrores, deles estarem presentes em documentários e livros históricos, encontramos em muitos partidos brasileiros uma defesa cerrada do “maoísmo” que é como ficou conhecida: “doutrina política de Mao Tse‑Tung (1893-1976), líder da revolução socialista da República Popular da China e seu primeiro presidente, caracterizada principalmente pela atuação da força do proletariado na luta pela liberdade e consolidação do comunismo, a fim de eliminar a ideologia burguesa e promover uma mudança histórica, não só política, mas, também, cultural.
Assim como existe a defesa do regime genocida de Stálin, antiga União Soviética; da ditadura norte-coreana, que desde os anos cinquenta passa de pai para filho e é o regime mais autoritário do mundo, tão opressor que aqueles cidadãos não sabem o que é liberdade e vivem por viver, como os seres irracionais.
A despeito de tudo isso, partidos políticos, artistas, sindicalistas e mesmo “intelectuais”, já se manifestaram – mais de uma vez –, em defesa do regime, como também o fizeram e fazem em relação ao regime cubano.
Diga-se, de passagem, que a vida inteira sempre “pagaram pau” aos irmãos Castro.
Assim, não estranhei ao saber que partidos, políticos, sindicalistas, movimentos sociais e os “supostos” intelectuais brasileiros estão saindo em defesa do regime de Nicolás Maduro, da Venezuela.
Isso é apenas a história se repetindo, como farsa.
As pessoas sensatas conseguem enxergar que o “madurismo” e o “chavismo” destruíram a economia venezuelana, levando à miséria quase a totalidade da população; não conseguiram prover o essencial ao povo, que dizem tanto defender.
Construíram, com os recursos da nação uma “corruptocracia” que se sustenta basicamente com o apoio de militares que fizeram do narcotráfico uma forma de “fazer” dinheiro e de políticos corruptos.
Enquanto isso, as pessoas não têm forças, sequer, de se colocar contra o regime.
Elas lutam é para sobreviver em um país que não tem alimentos suficientes para prover o seu sustento; com uma inflação que deve ultrapassar os dez milhões por cento esse ano; com pessoas morrendo à míngua por falta de atendimento médico-hospitalar, pois falta as coisas mais comezinhas, até mesmo para um curativo; onde as mulheres ao primeiro sinal de um nódulo no seio, aceitam se submeter à retirada total da mama, pois temem não terem como prosseguir com o tratamento; onde as pessoas catam lixo para tentar comer pois mais de setenta por cento da população já perdeu entre vinte e trinta por cento do peso devido à fome; onde as crianças ostentam uma das maiores taxas de mortalidade do mundo.
Qualquer pessoa sensata consegue entender que a última eleição do senhor Maduro foi uma fraude escancarada, a começar pelas limitações de participação dos adversários, presos e/ou impedidos de disputar pelos donos do poder.
Ainda que tivesse ocorrido tudo na mais perfeita normalidade democrática, um governante deixa de ter qualquer legitimidade ética, moral e política quando não consegue gerir a nação de sorte a propiciar o bem-estar coletivo.
O governo do senhor Maduro está bem além disso. Ele provoca de forma deliberada o genocídio do povo venezuelano. A população quer e precisa de alimentos para saciar sua fome, medicamentos para curar suas enfermidades, água tratada para beber, um mínimo de segurança e não tem nada disso.
Quantos milhares ou milhões de venezuelanos não já morreram por lhes faltar o básico, o essencial?
Qual a diferença entre o quadro atual e o que fez Mao Tsé-Tung no século passado? Nenhuma.
E, talvez, haja uma agravante: no caso da Venezuela, conforme temos assistido, o viés ideológico tem impedido que alimentos, medicamentos e outros insumos básicos cheguem a população faminta e doente.
Diversos países – não apenas os Estados Unidos –, mandaram ajuda humanitária a Venezuela, como os membros da União Europeia, Brasil, Colômbia, Chile e tantos outros. Assistimos Nicolás Maduro fechar a fronteiras e ordenar que se atire, para matar, em quem tentar entrar com alimentos e remédios.
Fez mais. Em um comício em praça pública para os seus apaniguados – que diga-se, não estavam muito empolgados –, disse que não precisava de ajuda humanitária nenhuma, que todo o alimento que aqueles países tinham para doar ele poderia comprar. Não satisfeito, mentiu dizendo que aqueles alimentos estavam estragados e que já tinha matado diversas pessoas.
Que chefe de nação mente assim, de forma tão descarada, para o mundo inteiro assistir?
Como classificar aqueles que negam comida com o seu povo catando lixo nas ruas para comer?Como classificar aqueles que recusam remédios a pacientes doentes?
Fizeram mais. Além de fechar a fronteira para impedir a entrada de alimentos, mandou que se incendiasse os caminhões com alimentos e medicamentos que conseguiram “furar” bloqueio.
Como devemos classificar aqueles que destroem alimentos e medicamentos diante da necessidade premente da população?
Ao meu sentir, não há como justificar o comportamento de Maduro e dos seus aliados de dentro ou de fora da Venezuela que apoiam esse tipo de coisa.
Há, no mínimo, uma deformidade ética ou moral em quem assim procede e em quem apoia ou justifica esse tipo de proceder.
Dizer que ajuda humanitária para saciar a fome ou curar enfermos seria uma afronta à soberania daquele país é algo absolutamente despropositado, somente degenerados morais que há muito perderam qualquer senso de decência possuem condições para justificar e achar correto o proceder do senhor Maduro.
A única ideologia capaz de justificar o que vem ocorrendo na Venezuela – com o apoio desavergonhado de muitos brasileiros –, é a ideologia da morte, da farsa genocida dos imorais.
Ah, mas os Estados Unidos querem “beber” o petróleo da Venezuela.
Estúpidos! Mil vezes estúpidos! Cínicos, não veem que se deve pensar em salvar vidas e só depois em petróleo?
Qualquer um brasileiro ou não que apoie o que o senhor Maduro está fazendo deveria ser enquadrado como genocida perante os tribunais encarregados de julgar os crimes contra a humanidade.
Isso que são: criminosos.
Abdon Marinho é advogado.