SEMELHANÇA ENTRE MIM E LUDMILA

Por João Melo e Sousa Bentivi 

Antes que seja tarde, um aviso, não conheço nenhuma música da aludida cantora, tampouco tenho a menor ideia do seu timbre, graças a Deus. Mas foi o fato mais interessante nessa corrida de F1.

Nascido em um tempo pré-Paulo Freire, no qual todos nós, do mais sábio ao mais ignorante, sabíamos ler, escrever e contar, respeitar aos nossos professores e cantar o Hino Nacional eram rotina.

Fazendo uns cálculos aproximados, constatei que já cantei o Hino Nacional por mais de 30 mil vezes, sem checar as centenas em que o regi, na minha antiga e profícua profissão de regente de coral.
Tenho, portanto, um crédito de Hino Nacional, que nem o STF será capaz de anular.
Voltemos para a tal cantora. Deve ter recebido um altíssimo cachê para cantar (deveria devolver, pois não cantou) e aí se configura a primeira gafe: o teste de desempenho.

Pelo clã político e ideológico dessa moça, seria mais provável (ainda que desconfiando dos seus neurônios) que ela saiba o hino da Internacional Socialista em russo, inglês ou birmanês, o problema é saber o Hino nacional, em português. Ela não sabia!
A propósito, o nosso idioma sofre uma severa e violenta perseguição da chamada esquerda!

A ideia de fazer o hino acompanhado pelo cavaquinho, sem preciosíssimos obtusos, não gosto, mas aceito. Pela importância do hino, existe normas legais para a sua execução, que não vou dissecá-las, por não caber nesse meu simples arrazoado.

Mas o cavaquinho foi a única coisa que se salvou no ato. O Jovem músico, muito bom, por sinal, deve ter ficado em uma situação desconfortável, mandava afinados acordes, à procura de uma canção, de uma voz, e os acordes encontraram o silêncio sepulcral da ignorância. A única nota favorável a essa desdita é que essa ignorância se torna a norma e, ao se tornar norma, se tornará o padrão. Triste novo padrão para essa tal pátria brasileira: não se cantar o Hino Nacional.

Voltemos para a cena. Acordes do cavaquinho e a tal cantora inicia. O erro não foi lá pelo meio do hino, onde muitos confundem o “Brasil, um sonho intenso” com “Brasil, de amor eterno, seja símbolo…”

Não, mil vezes não, a obtusa moça, que até agora chamei de a tal cantora, errou o verbo inicial do hino, como perfeita aluna da era Paulo Freire. A dúvida é se ela disse “ouvira”, ou se, como é a minha dúvida, se referiu a uma companheira qualquer de eventos, que mora no Ipiranga, a dona “Elvira do Ipiranga”.

Como tudo que não presta pode piorar, cumpre uma referência aos jornalistas que cobriam o evento. Quando era estudante de jornalismo aprendi que o fato mais importante, em nossa profissão, era a notícia, mas o jornalismo morreu (uma tal medicina segue ferrenha essa marcha) e a cobertura desse evento matou a principal notícia: a cantora que não cantava.

Quando viu que a cantora não cantava, passou a mostrar imagens de convidados, de cachorro subindo no poste e nada de mostrar a grande notícia: a cantora que não cantava.

Naquele momento, a maior notícia não era a F1, não eram os convidados, mas a cantora que não cantava… A cantora que não canta, é o mentiroso que não mente, o pistoleiro que não mata e o ladrão que não rouba. A bem da verdade, nesse último item, há uma possibilidade bem brasileira, somente do Brasil, a possibilidade de existir o ladrão sem pena, sem condenação ou com condenação anulada.

Mas faltava a desculpa justificadora, saindo da boca que não cantou e essa foi perfeita e compatível com a obtusidade da tal cantora. O SOM FALHOU!!!! Ninguém explicará como falhou o som da cantora e o cavaquinho cantava solitariamente e mais ainda, como falhou o som se alguns grunhidos ininteligíveis foram captados pelo microfone da moça? Era melhor a tal cidadã ter ficado calada.

Finalmente, antes que possa esquecer, o título dessa matéria é SEMELHANÇA ENTRE MIM E LUDMILA. Por incrível que pareça existe uma, de fato marcante: NÓS DOIS NUNCA MAIS CANTAREMOS O HINO NACIONAL!!!. A diferença, como dizia um amigo meu, está no why e no because.

A moça, a tal Ludmila, nunca deve tê-lo cantado e, nas atuais circunstâncias, desconfio que densas névoas encobrem os seus neurônios, incapacitando-a de adentrar na música de Francisco Manoel da Silva e letra de Osório Duque Estrada. Essa moça jamais cantará o Hino Nacional.

Eu, também, nunca mais o cantarei. Tenho um dos maiores créditos acumuladas de cantada de hino, não tem lei que me obrigue e não tem vontade que me mova. Simples assim. As minhas razões são somente minhas, não conto para ninguém.

É ou não é uma semelhança?

Tenho dito.

Bentivi é médico otorrinolaringologista, legista, jornalista, advogado, professor universitário, músico, poeta, escritor e doutor em Administração, pela Universidade Fernando Pessoa, Porto, Portugal. Pode ser reproduzido, sem a anuência do autor, em qualquer plataforma de comunicação.