PIB e coronavírus

Por Eden Jr.

Nos últimos dias, duas notícias trouxeram preocupações para a economia brasileira, com possibilidade de graves repercussões para todo este ano.

Doutorando em Administração, Mestre em Economia e Economista ([email protected])

A primeira foi a confirmação da chegada do coronavírus ao país. A doença, que foi registrada inicialmente em dezembro na metrópole chinesa de Wuhan, vem se espalhando rapidamente pelo mundo, e apesar da baixa taxa de mortalidade – cerca de 3,8%, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – tem levado pânico aos mercados globais. A outra, foi a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de nossas riquezas – de 2019. Conforme o IBGE, o PIB cresceu apenas 1,1% no ano passado, deixando uma sensação de uma má notícia que já vinha sendo prenunciada, notadamente pela performance do derradeiro trimestre de 2019, que teve expansão de apenas 0,5%.

Com relação aos efeitos do coronavírus na economia nacional e mundial, ainda há muita incerteza e as especulações dominam o cenário, apesar de se saber que, certamente, a trajetória do crescimento deste ano será severamente impactada. Nesse sentido, na semana passada, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – entidade que reúne os 36 países mais ricos do mundo e na qual o Brasil espera ingressar – divulgou o estudo “Coronavírus: a economia mundial em risco”, em que os efeitos do surto são projetados. A previsão da OCDE é que em 2020 o mundo irá crescer 2,4%, ante 2,9% do levantamento anterior, de novembro, e o Brasil experimentará ascensão de 1,7%, número que não sofreu alteração.

A maior preocupação para a OCDE vem da própria China, a segunda maior economia do planeta, que deve ter taxa de crescimento de 4,9%, ante 5,7% da estimativa pregressa. Para a zona do euro, uma segunda fonte de instabilidade, especialmente porque os registros da doença vêm aumentando – a Itália é um caso simbólico – a perspectiva de expansão é agora de apenas 0,8%, e não mais de 1,1%. A OCDE receita, neste momento, para o Brasil, e para outros emergentes, que o ajuste fiscal deve persistir, embora devam ser evitados cortes nas transferências sociais para classes de menor poder aquisitivo e os investimentos público e privado necessitam ser apoiados.

Como dito, a divulgação do PIB do Brasil em 2019 constitui-se numa “velha novidade”. Isso pois, desde o final do ano passado a desconfiança era que o crescimento iria ficar em torno de 1%, como já havia acontecido nos dois anos anteriores. A maior frustação ficará mesmo para a performance deste ano, que vai ser impactada pelo resultado de 2019 e por outros fatores, como o coronavírus e o andamento de reformas como a tributária e a administrativa. Muitas entidades estão revendo suas projeções para 2020. A XP Investimentos diz que vamos crescer 1,8%, e não mais 2,3%, a ARX Investimentos 1,8%, ante 2,3%, e o Banco Safra reduziu a previsão de 2,1%, para 1,9%.

O desempenho do PIB do ano passado foi puxado pelo consumo, que cresceu 1,8%, em razão da melhora do emprego e da liberação dos saques do FGTS, e os investimentos do setor privado, que se elevaram em 2,2%. Essa foi uma ótima notícia, pois somente com a ampliação dos empreendimentos é que teremos uma recuperação sustentada. Refletindo o ajuste fiscal, o consumo do governo caiu 0,4% e os investimentos públicos despencaram 5%. Em relação aos setores, todos cresceram: o agropecuário 1,3%, retratando o bom comportamento da área dos anos recentes; os serviços 1,3%, resultado muito relevante, pois esses representam mais de 70% da economia, e a indústria 0,5%, mostrando ainda uma tímida recuperação para essa área que é tão importante pelo seu dinamismo e capacidade de inovação, mas que vêm perdendo espaço nas últimas décadas.

A ressaltar também os fatores que impactaram negativamente o desempenho de 2019: a tragédia da Vale em Brumadinho (a segunda maior mineradora do mundo e a quarta principal companhia do país); a crise na Argentina (o nosso terceiro parceiro comercial); a guerra comercial entre EUA e China (os dois gigantes mundiais e nossos principais parceiros comerciais); a falta de convicção do presidente Bolsonaro em promover reformas econômicas e a relação esgarçada dele com o Congresso, que dificulta a aprovação de projetos do governo.

Até esta sexta-feira, dia seis, com a confirmação de 13 casos de coronavírus no Brasil, o dólar já havia se valorizado, no ano, 15,50% frente ao real; o Banco Central tinha torrado mais de 5 bilhões de dólares para conter a queda da nossa moeda e anunciado que deve cortar mais os juros básicos da economia, provavelmente para 4% a.a., e o Ibovespa – índice que representa as ações mais negociadas na Bolsa de São Paulo – perdeu 15,26% em 2020.

Contudo, repercussões mais precisas para a economia, derivadas da epidemia global do coronavírus, só virão quando os ânimos serenarem, a doença for contida e as contas puderem ser feitas com mais exatidão. Por enquanto, é agir e torcer!