Mais do mesmo na gestão e planejamento do turismo. Por que o turismo no Maranhão não decola?

Por Kennedy Abreu

Pensar e planejar o turismo pela ótica de mercado, significa dedicar-se tanto ou mais com “como serão recebidos” os turistas, que com “quantos” deles virão.

Planejar o turismo pela ótica de mercado significa também dedicar-se a conhecer os turistas que aqui chegam, saber quem são, de onde vem, qual o perfil socioeconômico, a natureza da visita, como avaliam a cidade e estado, como avaliam os serviços prestados.

Pode-se contar nos dedos, e talvez, nem dispenda-se tanto ao enumerar e elencar regiões do Brasil tão ricas em diversidade cultural, histórica, literária, arquitetônica, e de belezas naturais, como é o caso do estado do Maranhão.

Trata-se de um “combo” de entretenimento, aventura e cultura, oferecidos em abundância aos visitantes que aqui chegam.

Seja qual for a razão de sua visita, vale destacar o conjunto arquitetônico magnífico que compõe o centro histórico de São Luís, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o Parque Nacional da Chapada das Mesas, a cidade histórica de Alcântara, as cachoeiras do Centro Sul do estado.

São diversificados atrativos que encantam turistas do mundo inteiro; de fato, o Maranhão possui uma riqueza singular. Porém, voltemos a questão principal: Porque o turismo do Maranhão não decola?

Poderíamos elencar uma série de entraves que vão desde a precária malha estrutural do transporte que deveria interligar, de maneira eficiente, todas regiões do estado, até mesmo a subdesenvolvida urbanística das cidades maranhenses, não obstante, seria demasiado improdutivo basear a ineficiência do setor turístico ao histórico atraso estrutural e tecnológico que são peculiares de regiões pobres, como é o nosso estado. Em outras palavras, usar estas justificativas seria ‘chover no molhado’.

A gestão e planejamento do turismo maranhense tem um entrave sintomático e orgânico.

A equivocada abordagem e visão que possui o poder público sobre o que de fato o turismo, assim como a sua importância no contexto socioeconômico para um estado como o Maranhão.

A gestão do turismo e planejamento de políticas públicas voltadas ao setor têm sido abordadas com o olhar do estado, ao invés de serem conduzidas pelo olhar de mercado, ou em outras palavras, assumir de fato que o turismo faz parte da economia regional real, e não de uma bandeira política promocional.

A equivocada visão, tende a voltar as políticas públicas do turismo a estabelecer um relacionamento entre turistas e governos, como se os turistas que aqui chegam fossem clientes do governador ou dos prefeitos, e não dos setores produtivos locais como comerciantes e prestadores de serviços.

O governo não hospeda turistas, não fornece alimentação, não transporta, não fornece suplementos, não produz artesanato, não embeleza, não faz Exchange de moedas estrangeiras, e também não produz cultura.

Todos os serviços e produtos de que  necessitam os turistas para que tenham uma satisfatória experiência em sua estadia, são fornecidos e servidos pelos empresários locais e profissionais liberais.

Uma gestão do turismo precisa ser empreendedora, pesquisadora, e analista de mercado. Os órgãos e autarquias estatais cujas competências relacionem-se ao turismo, carecem de um perfil mais inovador e participativo em relação ao setor privado.

Planejar políticas públicas voltadas ao turismo sem ouvir e incluir os operadores reais do turismo, aqueles que prestarão serviços aos turistas que aqui visitarem, é completamente ineficiente.

Desde o governo Fernando Henrique Cardodo, quando o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR) foi colocado em status de empresa pública, passando posteriormente ao advento da criação do Ministério do Turismo em 2003, é de atribuição principal deste ministério comercializar e promover o turismo brasileiro internacionalmente.

Para a economia, significa que o governo federal através do Ministério do Turismo e da autarquia acima citada, tem por objetivo principal atrair turistas estrangeiros, ou em outras palavras, promover a entrada de Dólares nas reservas de moedas internacionais do Banco Central; esses dólares que serão trocados por reais aqui no Brasil, serão injetados nas economias regionais, onde estes estrangeiros decidirem hospedar-se, alimentar-se, consumir produtos locais, transportar-se, embelezar-se, etc.

O “milagre” econômico advindo do turismo, ocorre quando um turista de um país estrangeiro troca dólares por reais aqui no Brasil, e em visita a São Luís vai ao centro histórico e decide provar o tradicional beiju na barraquinha do ”Rei do Beiju”, ou ao passar pela região do Palácio dos Leões, decide experimentar a famosa coxinha brasileira na requintada “ Casa Real Empório”, por exemplo.

Pensar e planejar o turismo pela ótica de mercado, significa dedicar-se tanto ou mais com “como serão recebidos” os turistas, que com “quantos” deles virão.

Planejar o turismo pela ótica de mercado significa também dedicar-se a conhecer os turistas que aqui chegam, saber quem são, de onde vem, qual o perfil socioeconômico, a natureza da visita, como avaliam a cidade e estado, como avaliam os serviços prestados. Saber quantos deles voltariam a visitar o estado, obter um feedback daqueles que injetaram dólares na economia local. Através destas informações preciosas, os empreendedores locais readéquam-se, redefinem estrategicamente a atuação de seus negócios, preparam-se para receber turistas de maneira mais adequada, direcionam seus investimentos, capacitam seus funcionários, e assim a região mercadologicamente estrutura-se, tornando-se gradativa e naturalmente um polo turístico mais forte, desenvolvido e atrativo. Essa distância e ausência de comunicação, ou interação entre poder público e iniciativa privada deterioram as potencialidades turísticas do estado do Maranhão. Uma economia de mercado baseia-se e preza pelo lucro, o poder público por usa vez não lucra, porém deve ser um agente que planeja e potencializa a capacidade lucrativa dos negócios e comércios locais, através de políticas públicas voltadas ao setor empresarial. Quando o setor turístico é gerido e planejado pela ótica do governo, a imagem passada pela gestão aos residentes locais é o objetivo central.  Já quando gerido pela ótica econômica e de mercado, os números da economia, a  expansão da injeção de moeda estrangeira na economia nacional através de turistas satisfeitos, assim como a abertura de novos negócios e geração de empregos  são o principal objetivo.

O grande desafio da nova e futura gestão do turismo no maranhão, deve ser a inclusão da sociedade empresarial e civil no processo de discussão, planejamento e implementação de políticas públicas, torna-los cientes e ativos em sua parcela de responsabilidade como prestadores de serviços e anfitriões dos estrangeiros que aqui chegam.  Enquanto o turismo no maranhão for tratado e gerido como uma agência de publicidade do governo local, cujas realizações não passam de painéis para fotos e Banners de publicidade, as potencialidades turísticas de nosso querido estado serão sempre dignas de Google imagens, e refratárias a visitação.

O turismo é economia real. Inovar, fazer diferente e planeja-lo com ótica de mercado significa garantir uma economia aquecida, emprego, renda, desenvolvimento e principalmente, garantir que aqueles que aqui visitam além de desejarem retornar sejam nossos maiores divulgadores, embaixadores de nosso estado pelo mundo, pois terão uma ligação afetiva não somente com o espaço geográfico pertencente ao estado do maranhão, mas também com nossa gente. Não esqueçamos que clientes satisfeitos são mais eficientes que uma campanha  de publicidade.

Se de fato espera-se alavancar o turismo no estado do Maranhão, desenvolver a economia local, gerar emprego e renda através das atividades turísticas, somente será possível por meio  do estimulo ao empreendedorismo local, e inclusão participativa da sociedade empresarial e civil no planejamento de políticas públicas, tornando a estratégia adotada pela gerência do turismo local não apenas uma missão ou filosofia de uma autarquia estatal como a EMBRATUR, mas torna-la uma missão coletiva, social e econômica. Ou em outras palavras, adotar uma visão e perspectiva de mercado a gestão e planejamento do turismo. Do contrário, qualquer coisa do que tem sido feito até então, não passará de MAIS DO MESMO.