O preço da pilhagem- Editorial do Estadão
Os prejuízos em que a Petrobrás incorreu por ter aplicado bilhões de reais em dois projetos lançados por mero interesse político eleitoral do ex-presidente Lula, mas cuja viabilidade havia sido condenada por pareceres internos e diagnósticos realizados por consultorias privadas, são o retrato do modelo de gestão que o governo petista impôs à estatal.
As previsíveis e maléficas consequências que a pilhagem da Petrobrás traria para a empresa e para o País vão agora sendo apontadas e aferidas por auditorias como a que o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu há pouco.
Os projetos de duas refinarias premium uma no Maranhão, outra no Ceará foram anunciados por Lula em 2008 para agradar aos governadores daqueles Estados.
O relatório de uma empresa contratada pela estatal para melhorar a qualidade dos projetos das refinarias levou à redução do custo total delas de US$ 44 bilhões para US$ 33,7 bilhões. Mesmo assim, o risco de prejuízo continuou muito alto, de praticamente 100%, como apontou uma auditoria externa.
A diretoria da Petrobrás, por isso, sabia dos riscos.
Sem que os projetos tenham saído do papel, a Petrobrás gastou com eles R$ 2,7 bilhões. Como mandam as práticas contábeis seguidas por empresas sujeitas a auditorias externas, esse valor foi lançado como prejuízo, o que só aconteceu no terceiro trimestre de 2014.
Não apenas a diretoria executiva da estatal, mas também seu Conselho de Administração na época
presidido pela então ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff tinham informações sobre a má qualidade dos projetos das refinarias. Dadas as evidências das perdas que eles provocaram, o TCU poderá investigar se houve omissão do Conselho de Administração nesses casos. Grandes festas políticas marcaram o anúncio da construção das duas refinarias a Premium I em
Bacabal (MA), e a Premium II em São Gonçalo do Amarante (CE) e, depois, o lançamento de suas pedras fundamentais, sempre com a presença de Lula e da então ministra Dilma Rousseff, que vinha sendo preparada pelo presidente para sua sucessão.
No comício que deveria marcar o início das obras da Premium I, no Maranhão o que, de fato, nunca ocorreu, com a grandiloquência típica de seu discurso populista, Lula disse que, quando as refinarias passassem a operar, o Nordeste nunca mais seria apontado como a parte pobre do País.
Para mostrar que cumpria a promessa do presidente, em fevereiro de 2010, pouco antes do início da campanha que asseguraria a primeira eleição de Dilma, a diretoria da Petrobrás assinou o contrato de terraplenagem da Refinaria Premium I no valor de R$ 711 milhões com a construtora Galvão
Engenharia, investigada na Operação Lava Jato. No mesmo ano, foi assinado o segundo contrato, de US$ 422 milhões, de licenciamento para o uso de tecnologia do projeto básico, assistência técnica e serviços de préengenharia. Esses dois contratos, com valores corrigidos, produziram a maior parte do prejuízo contabilizado pela Petrobrás com as Refinarias Premium. De acordo com o TCU, essas obras e serviços foram contratados com antecedência desnecessária, o que pode caracterizar erro de gestão.
Para não admitir a inviabilidade das duas refinarias determinada por razões técnicas, por mudanças no mercado do petróleo e pela variação da taxa de câmbio , a Petrobrás tentou alongar o cronograma das obras e aumentar de 25 para 40 anos a vida útil das refinarias. Mas, afinal, acabou tendo de anunciar o abandono dos projetos e arcar com o prejuízo, o que piorou ainda mais os resultados financeiros já severamente prejudicados por uma política irresponsável de preços e pelo esquema de corrupção desvendado pela Lava Jato.
Ao longo da gestão petista, a capacidade financeira da Petrobrás foi dilapidada não apenas pelo vasto esquema de corrupção montado para beneficiar dirigentes da empresa, partidos e políticos da base governista, mas também pela irresponsável transformação da empresa em instrumento político eleitoral do governo.